quinta-feira, 14 de maio de 2009

Peak Oil

Na última quinta-feira assisti à palestra que fechou a semana do desenvolvimento sustentável da X, com Yves Cochet (deputado do partido verde, ex-ministro do meio ambiente). Também assistira à palestra de abertura segunda-feira com Jean-Marc Jancovici, X, consultor especialista em energia e clima. Ambas foram muito boas, ambas duraram duas horas mesmo se estava prevista uma só e ambas me convenceram quanto à mensagem (a mesma nas duas): Estamos irremediavelmente fudidos, e o motivo é o petróleo.

O petróleo e outras fontes não renováveis de energia (como carvão e gás natural) contam por mais de 90% de toda a energia consumida no planeta. Como essas fontes são não renováveis, por definição elas acabam. Poderíamos nos perguntar quando o petróleo vai acabar, mas essa não é a pergunta certa: Mesmo que ainda haja jazidas elas se torrnam cada vez mais difíceis e custosas de explorar (em dinheiro e energia -- na verdade os dois são sempre quase a mesma coisa no fim das contas). A verdadeira questão é quando a produção vai entrar em queda, e não vai acompanhar a demanda. Nesse momento o consumo mundial de energia per capita vai diminuir, por bem ou por mal. Esse pico de produção (seguido da queda) é o Peak Oil, como o chamou o geólogo Hubbert que já na década de 50 previu o Peak Oil do petróleo doméstico americano para a década de 70 e foi meio que ignorado, mas a crise chegou e mostrou que ele estava certo.

Então quando vai ser o Peak Oil mundial? Bem, surpresa, é agora. Alguns dizem que julho de 2008 pode ter sido o mês recorde de produção de petróleo de todos os tempos. Os mais otimistas dizem antes de 2020, ou seja, na próxima década. De qualquer forma a curva do preço do barril indica que estamos aí. Eu gosto da figura abaixo, que mostra a era do petróleo. Nós estamos bem ali na pontinha onde você está pensando. O petróleo representa a energia barata que permitiu um desenvolvimento espantoso da nossa civilização desde o primeiro poço, em 1859.
Jean-Marc Jancovici estimou que a energia média consumida no dia-a-dia de um francês equivale aproximadamente ao trabalho de 140 escravos a total disposição, 7 dias por semana, desse um francês [vide algum lugar de seu site em inglês]. Pois bem, ~35% desses escravos são hoje petróleo e outros ~60% são gás natural, carbono ou urânio, que têm picos similares previstos para as próximas décadas. Nos Estados Unidos seria o dobro de escravos.

Tem muito o que se ler a respeito na internet. Para citar só um relatório interessante entre vários: Clifford J. Wirth - Peak Oil: Alternatives, Renewables and impacts. Jancovinci recomendou o livro The Party is Over, mas não li.

É isso aí, pensem nisso galera, porque que vai afetar todo mundo vai, eu não tenho dúvidas. E vai ser tão mais forte quanto a classe política negar a história toda e prometer uma (insustentável) retomada do crescimento ao invés de tomar as medidas necessárias, que não necessariamente agradariam a todo mundo. Segurem-se.