terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Notas de prova

A estratégia para passar
E como ela não funciona na França

Minhas provas que fecham o semestre serão na segunda metade de janeiro, e tendo em vista minha dificuldade em mecânica e a nota da primeira prova, que já saiu, achei que seria o momento de traçar minha estratégia para passar (ou validar, como se diz aqui).

Para isso, recorri instintivamente ao algorítmo padrão: pegar a folha que me entregaram no primeiro dia de aula e que guardei únicamente para este momento, encontrar a fórmula que dá a média final, substituir as letras pelos valores conhecidos e isolar a última prova do lado esquerdo da equação.

Sabendo qual a nota que é preciso tirar, o nível do desespero regulará quase que automaticamente o dos estudos, mas mesmo estratégias mais elaboradas são possíveis. Por exemplo, dá para deixar um tópico de lado para garantir a nota em outro, caso a situação permita entregar a prova sem responder aquela questão sobre PPV que, sabe-se, cai todo ano.

Mas não.

Aqui a fórmula é a seguinte: NOTA = máx[ P2, (P1+P2)/2 ] + PC
Onde P1 e P2 são as provas, valendo 20 cada, e PC é uma nota até 7 dada pelo professor de petite classe, baseada no que ele achar melhor. Como a nota de PC é aleatória, poderia ser difícil estimar o objetivo para a P2, mas na verdade não é difícil. É impossível.

Isso porque a fórmula é absolutamente inútil. Em baixo dela está escrito "A nota numérica assim obtida será então convertida em uma apreciação literal". Ou seja, vai virar algo entre A e E, onde é preciso ter A, B ou C para passar.

A correspondência nota literal<->nota numérica é estabelecida ano a ano, de acordo com o sentimento dos professores diante dos histogramas de notas dos alunos. Por alguma razão matematicamente inaceitável esse procedimento é chamado aqui de gaussianização.

Como resultado, aqui não há estratégia para passar. Não adianta. Você tem que estudar, aprender e ter fé no sistema, que segundo a lenda passará aqueles que tiverem aprendido.

Sendo brasileiro isso me pareceu um enorme absurdo e tenho impressão que se decidissem fazer assim no Brasil haveria uma revolta estudantil de proporções que não vemos há 20 anos.

Por outro lado, não seria ainda mais absurda a estratégia de pular um capítulo e ir pra prova sabendo que se vai deliberadamente deixar a questão correspondente em branco? Acredito que muitas vezes dizer "a média é 5" acaba levando o cara a estudar só a 50%. Ou 60% vai, pra garantir.

Mas enquanto não volto para o Brasil o jeito é anotar as fórmulas do curso em vez de fazer recurso às fórmulas da nota...

4 comentários:

dinosaulo disse...

(Na verdade o post inteiro foi só um preâmbulo para a última frase)

Bruno disse...

O sistema passa os que realmente aprenderam, os puros de coração e os brasileiros agraciados com ajuda divina...

Afinal de contas, a caixa preta que envolve a transformação da nota chifrada na literal dá margem a todo tipo de crendice, oração, sorte ou suborno.

Leonardo disse...

Mas essa "gaussianização" não consiste a normalizar as notas dos alunos, uma espécie de "ranking"? Sei que na Centrale Lyon as notas são normalizadas: o melhor aluno ganha 20 e o pior...bem...não sei se chega a zero...mas é algo próximo...
No caso de vocês eles não pegam, por exemplo, depois da normalização, os que tem 16-20 e dão A, os que tem 12-15 e dão B etc?
Mas tenho uma outra sugestão: eles utilizam aquele diagrama mágico que esqueci o nome (tinha japoneses no meio, acho) e que tinha em uma revista do nosso "kit bixo".

Bruno disse...

Caro Leonardo, vou tomar a liberdade de ocupar o lugar do dono do blog para reforçar:

1 - Não se sabe como é feita a normalização. As notas "numéricas" são divulgadas no final do ano, mas apenas a nota pós-gaussianização. Ou seja, não tem como saber quanto você realmente tirou na prova original.

2 - As faixas de cada letra variam (aleatoriamente?) de prova para prova. A título de exemplo, cito uma prova minha de química orgânica em que o valor total da prova teve de ser elevado de 20 para 32 para que a média da sala fosse 12 (que é a única exigência conhecida da gaussiniazação). Eu havia resolvido uma questão que valia 6/20 e fiquei com A.

Ou seja, o mistério impera...