quinta-feira, 24 de abril de 2008

Hoje...

... tive, pra começar, o amphi-zero de mecânica e uma conferência de mecânica de manhã e o amphi-zero de física e uma conferência de física de tarde. Para que isso faça algum sentido, fico obrigado a dizer algumas coisinhas sobre o sistema de ensino francês (em nível superior).

Definição: Uma aula expositiva, em que assuntos novos são abordados diante de uma platéia grande de alunos em um anfiteatro, é chamada de amphi.

Definição: Uma aula de exercícios relacionados à matéria exposta em amphi e dada em uma sala pequena para menos alunos é chamada petite classe, ou simplesmente PC.

Proposição: Os cursos na X, bem como no sistema de ensino superior francês em geral, são compostos de amphis e de PCs.

Definição: O primeiro amphi de um curso é frequentemente denominado amphi-zero. (atenção à pronúncia: /ãfi zerrô/)

Quanto à conferência, bom uma conferência é uma conferência. Alguém vêm falar de algum assunto, quase como um amphi. Pode ser uma viagem muito louca pelas barreiras inexploradas nos limites da ciência, pode ser um aprendizado inestimável que te faz imaginar o quão foda você seria se pudesse assistir uma conferência dessas por dia, mas pode também ser uma boa oportunidade para desfrutar das confortáveis poltronas do amphi Poincaré[¹] para tirar uma agradável soneca ou desenhar uma tirinha (que estará disponível em alguns dias, quando for escaneada).

Bom, depois dos amphis e de dormir um pouco (recuperando da gripe...), às 7 horas fui no churrasco à beira da pista de atletismo organisada pelos veteranos da seção athlé.

Definição: Quando alguns franceses decidem comprar um monte de baguetes, algumas salsichas, catchup e maionese, colocam carvão no que chamaríamos de uma churrasqueira improvisada que faz uma fumaça desgraçada e trazem algumas cervejas para serem bebidas quentes, é o que pelos próximos dois anos eu vou ter que me contentar em chamar de churrasco.

MAS... até que foi legal.

Depois, voltando pra casa, me deparei com uma galera atirando com arco-e-flecha dentro de um ginásio. Era o binet arco-e-flecha. Entrei, tomei algumas dicas e atirei algumas flechas antes de voltar pra casa. Se alguém perguntar, posso estufar o peito e dizer que já fiz arco-e-flecha. É divertido.

Definição: Uma associação de alunos da X que têm alguma coisa em comum ou que fazem alguma coisa juntos chama-se binet. Não é uma palavra em francês, mas apenas uma palavra que só existe no mundo dos X.

Exemplos: Binet pára-quedismo, binet montanha, binet Asterix (todo ano eles fazem um banquete à la Asterix, com javalis assados e tudo o mais), binet rede (são os alunos que cuidam da rede de computadores que entre outros fornece a internet que eu estou usando agora), binet teatro, binet sinuca (tem uma sala com mesas de sinuca, os sócios do binet têm a senha pra entrar e levar quem quiser. Para se associar, basta deixar um cheque preventivo de 500 euros com o tesoureiro, que não será descontado a não ser que dê merda), binet ADO (atelier des ondes, que é como o binet sinuca mas em vez de uma sala de sinuca trata-se de um estúdio musical, com bateria e piano etc onde as bandas associadas podem ensaiar (e até gravar)), etc. Existe uma centena de binets, alguns vitais, outros completamente inúteis.

Por hoje é tudo, pessoal!


[¹] Gostaria de fazer uma nota de rodapé para falar do Poincaré. Henri Poincaré (leia-se /Ãrrí Poãcarrê/) foi um matemático do fim do século 19 pra começo do 20 que estudou na École Polytechnique e que foi muito foda. Eu não sei quais foram as suas contribuições no campo da matemática, mas deve ter sido muito importante e você pode descobrir isso olhando a Wikipedia.

Mas, o que você também pode descobrir olhando a wiki, é que Poincaré detém até hoje o recorde de nota média mais alta no concurso de admissão ("vestibular") para entrar na X. Ele também foi o único aluno a ter sido admitido mesmo obtendo nota zero em uma das provas do concurso, o que seria normalmente critério eliminatório. Isso mesmo. Poincaré zerou a prova de desenho, e obteve 20 pontos de 20 nas demais provas [²] (três de matemática e uma de física).

Já o que não está na wiki (o que dá um certo grau de inconfiabilidade à informação) é que Poincaré teria feito atletismo na X, e teria por marca nos 200m rasos um fenomenal 21"34.

[²] Esta segunda nota de rodapé, referenciada em [¹] e sendo portanto uma nota de rodapé de nota de rodapé é dedicada aos sistemas de pontuação na escola em diferentes países, porque por incrível que pareça não é todo o mundo que acha natural dar notas indo de 0 a 10! Aí vai o esquema do que andei encontrando (tipicamente):

Brasil: De 0,0 a 10,0 (com uma casa decimal). Mais que a média (normalmente 5, 6 ou 7) => passou.

França: De 0 a 20 (permite "alguma coisa vírgula cinco") além de uma escala de A (melhor) até F (pior), em que para passar precisa-se de no mínimo C e existe uma relação completamente incompreendida entre a escala numérica e a escala ABCDEF.

Chile: De 1 a 7. (?? e eles acham normal!)

E o campeão de bizarrice:
Rússia: As notas vão até 5, sem casas decimais. Pra passar de ano, tem que tirar 3 ou mais. Só que é impossível tirar menos que 2. Na prática, existem quatro possibilidades: ou você tira 2 (bombou) ou 3 (na risca) ou 4 (médio) ou 5 (parabéns).

Um comentário:

Ricardo E Fukushima disse...

caso vc tenha algum crédito em relação ao que o wikipedia diz:
http://en.wikipedia.org/wiki/Grade_(education)